domingo, 10 de março de 2013

Tédio

(Enviada para o Pedro)

Estou entediada. Mas você não deve estar surpreso. Uma pré-adolescente declarar sobre seu tédio para todos que quiserem ouvir é tão normal quanto, nessa mesma idade, reclamar sobre sua mãe não fazer suas vontades ou um velhinho reclamar de dor nas costas. O fato é que nós, jovens, estamos cada vez mais difíceis de agradar. Mas eu não estou escrevendo para reclamar de como são os jovens de hoje em dia e de "como no passado tudo era tão melhor". Estou escrevendo porque, em meio ao meu tédio, comecei a pensar em como essa emoção, ou estado de espírito, como você preferir, afeta as pessoas e como, dependendo da situação ela pode ter variações.
Por exemplo, quem nunca ficou sentada em um sofá rodeada de adultos, em uma sala clara demais, tendo que ouvi-los conversarem sobre assuntos que você não compreende ou simplesmente não te interessam e, entrando em um estado profundo de transe causado pelo tédio, de repente perceber que o tempo está passando bem mais devagar e que você tem que gastar quase todas as suas forças para se manter acordada.
Ou, quando a luz resolve acabar as oito e meia da noite e você, sem luz elétrica para TV ou computador, ou iluminação o bastante para que possa ler um livro, tendo como única alternativa dormir, embora você esteja sem sono; ou olhar para o teto pensando em diversos tipos de comida que gostaria estar comendo enquanto espera a Eletropaulo atender a sua ligação, para que você possa perguntar a que horas a energia volta (acrescentando sempre às 2 horas e meia de atraso). Eu chamo esse tipo particularmente de "Tédio da Fome Inexistente". Porém, na minha modesta opinião, o pior tipo de tédio que você pode sentir é aquele que te deixa meio melancólica e sem vontade de levantar do sofá, mais conhecido como "Tédio de Domingo".
Normalmente aparece num domingo a tarde, bem no meio do período entre café da manhã e almoço, quando você, em tese, já fez sua lição de casa e não encontra um programa decente na TV, nada de interessante no computador, livro algum que desperte sua curiosidade e todos os seus amigos resolvem milagrosamente sumir e não te ligar para combinar nada. É nesse momento em que você deita no sofá com seu pai jogando Tetris ao seu lado e a segunda-feira se aproximando cada vez mais rápido, que começa a surgir a tal da melancolia. E foi envolvida por essa melancolia que eu pensei em escrever essa crônica. Afinal, tédio pode ser extremamente perigoso. Além de causar melancolia e excesso de sono, em certas pessoas como eu que gostam de comer para fazer o tédio passar, pode até causar um aumento de peso seguido de culpa. Portanto mantenha-se sempre ocupado e evite ao máximo o tédio e se você tiver que enfrentá-lo tente não pensar em frituras, uma cama ou que todos vamos morrer um dia.
 

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