Estávamos nós dois, eu e meu irmão,
caminhando de volta para casa. Quando de repente, na nossa frente surgem dois
objetos. Porém, mergulhados em nossos pensamentos e ocupados em não pensar em
nada, cada um notou apenas um dos objetos. Logo que o viu, meu irmão se
agachou no chão para ter certeza do que era aquilo: um finíssimo e minúsculo
gancho de metal. Enquanto ele, maravilhado com sua descoberta, observava atentamente
aquela improvável e, para muitos, insignificante aparição, eu parei atônita, ao
ver no chão, bem na minha frente, uma esfericamente perfeita, quase impossível
e, para muitos, repulsiva, mas interessante bolota de cocô. Ao vê-la tive uma
estranha sensação de nojo e curiosidade ao mesmo tempo. Afinal, quem ou o que
tinha feito aquilo?
Enquanto isso, meu irmão aproximou a
mão com curiosidade do seu gancho cintilante que, para a imensa maioria, seria invisível a olho nu, e
pegou com delicadeza, provavelmente se perguntando o que aquilo estava fazendo
jogado ali. Porém, enquanto o gancho de metal do meu irmão brilhava, o meu
objeto, muito pelo contrário, fedia. Mas por mais que aquilo não fosse bonito
de ver ou de sentir não pude deixar de me inclinar levemente para frente e me
perguntar como o responsável por isso conseguiu essa forma esférica tão
perfeita?
Rapidamente o que era novidade se
tornou banal e as nossas novas descobertas deixaram de nos interessar. Meu
irmão, antes tão interessado no minúsculo pedaço de metal retorcido, jogou-o
para o alto e chutou-o para longe. Quando ele se virou para mim encarei-o com
ironia e falei em tom de desafio, me referindo à bola de cocô: “Duvido que você
chute”. Ele me devolveu um olhar confuso, afinal nem tinha notado a anomalia da
natureza, bem na sua frente. Porém, foi aí
que a desgraça aconteceu. Enquanto ele falava, pensando que eu tratava do seu
gancho de metal, que ele já havia chutado para longe, deu um passo para frente e,
com uma só pisada, aquela estranha, incomum e ao mesmo tempo nojenta anomalia
da natureza se transformou num simples monte de excremento pisoteado no
asfalto. Não pude deixar de rir, embora também lamentasse por aquilo que era
antes tão diferente e agora era só mais uma mancha na calçada. Mas eu acho que
isso faz parte da natureza humana: rir dos acontecimentos corriqueiros da vida. Porém eu
duvido que por mais gentil que uma pessoa seja, ela não deixaria de rir do próprio
irmão praguejando e limpando o cocô do tênis num tronco de árvore.
Nunca imaginei que uma bolota de cocô poderia ser descrita tão bem! Meus parabens, adorei!
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