segunda-feira, 11 de março de 2013

Mas, afinal, o que é isso?

                                                            (Enviada para o Pedro)
                                             
           Estávamos nós dois, eu e meu irmão, caminhando de volta para casa. Quando de repente, na nossa frente surgem dois objetos. Porém, mergulhados em nossos pensamentos e ocupados em não pensar em nada, cada um notou apenas um dos objetos. Logo que o viu, meu irmão se agachou no chão para ter certeza do que era aquilo: um finíssimo e minúsculo gancho de metal. Enquanto ele, maravilhado com sua descoberta, observava atentamente aquela improvável e, para muitos, insignificante aparição, eu parei atônita, ao ver no chão, bem na minha frente, uma esfericamente perfeita, quase impossível e, para muitos, repulsiva, mas interessante bolota de cocô. Ao vê-la tive uma estranha sensação de nojo e curiosidade ao mesmo tempo. Afinal, quem ou o que tinha feito aquilo?
           Enquanto isso, meu irmão aproximou a mão com curiosidade do seu gancho cintilante que, para a imensa maioria, seria invisível a olho nu, e pegou com delicadeza, provavelmente se perguntando o que aquilo estava fazendo jogado ali. Porém, enquanto o gancho de metal do meu irmão brilhava, o meu objeto, muito pelo contrário, fedia. Mas por mais que aquilo não fosse bonito de ver ou de sentir não pude deixar de me inclinar levemente para frente e me perguntar como o responsável por isso conseguiu essa forma esférica tão perfeita?
              Rapidamente o que era novidade se tornou banal e as nossas novas descobertas deixaram de nos interessar. Meu irmão, antes tão interessado no minúsculo pedaço de metal retorcido, jogou-o para o alto e chutou-o para longe. Quando ele se virou para mim encarei-o com ironia e falei em tom de desafio, me referindo à bola de cocô: “Duvido que você chute”. Ele me devolveu um olhar confuso, afinal nem tinha notado a anomalia da natureza, bem na sua frente. Porém, foi aí que a desgraça aconteceu. Enquanto ele falava, pensando que eu tratava do seu gancho de metal, que ele já havia chutado para longe, deu um passo para frente e, com uma só pisada, aquela estranha, incomum e ao mesmo tempo nojenta anomalia da natureza se transformou num simples monte de excremento pisoteado no asfalto. Não pude deixar de rir, embora também lamentasse por aquilo que era antes tão diferente e agora era só mais uma mancha na calçada. Mas eu acho que isso faz parte da natureza humana: rir dos acontecimentos corriqueiros da vida. Porém eu duvido que por mais gentil que uma pessoa seja, ela não deixaria de rir do próprio irmão praguejando e limpando o cocô do tênis num tronco de árvore.

Um comentário:

  1. Nunca imaginei que uma bolota de cocô poderia ser descrita tão bem! Meus parabens, adorei!

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