quarta-feira, 20 de março de 2013

Pega no Flagra



Quem nunca comeu escondido na cozinha, não sabe o que é sentir adrenalina de verdade. Estranhamente, enquanto você come aquele pedaço de bolo que sua mãe proibiu e ouve atentamente, procurando por sons de passos, a comida parece ter um gosto a mais. A qualquer sinal de aproximação, seja por alguém levantando do sofá ou se ajeitando na cadeira do escritório, você já retesa o seu corpo, pronta pra esconder a prova do crime e pegar um copo na pia, fingindo que foi para a cozinha com o proposito único de beber água, e não de comer o queijo que está guardado na geladeira. Mas é claro que toda a pessoa gulosa que se prese tem suas táticas, quando se trata de não ser pega no flagra ou até mesmo de fugir de situações de risco, como quando seu irmão passa pela porta da cozinha enquanto você ataca o pote de Nutela.
Por exemplo: vamos supor que você, como citado acima, resolva satisfazer suas necessidades por açúcar, quando, nesse exato momento, seu irmão passa casualmente em frente a porta da cozinha. O que fazer? Bem, você tem duas possibilidades: lamber todo o conteúdo da colher e jogá-la na pia, com uma expressão inocente no rosto, ou ficar parada. E quando eu digo ficar parada eu digo parada mesmo. Imóvel, olhando atentamente para a frente, sem ousar respirar e implorando para que ele não note a figura com cara de culpada, com o pote de Nutela na  mão. É claro que em 99 por cento dos casos isso falha, especialmente se você estiver comendo algo barulhento como um resto de salgadinho que seus pais compraram em alguma ocasião e que todos já haviam esquecido. Mas em uma situação de pânico as pessoas agem por impulso.
Também existem as táticas dos esconderijos: na minha casa a lavanderia fica atrás da cozinha, portanto é sempre um bom esconderijo. Imagine-se na seguinte situação: sua mãe terminantemente proibiu que você comesse aquela batata palha do almoço do dia seguinte, só que você, movida por um impulso rebelde de gula, acaba cedendo à tentação e comendo a batata direto do pacote. Então, você ouve sons de passos se aproximando da cozinha. A ideia de fugir logo se forma na sua mente e a imagem da lavanderia aparece junto dela. Não dá tempo de fechar o saco e guardar, isso faria muito barulho. Você pode ver a sombra do seu pai começando a aparecer e, com adrenalina jorrando nas veias e a famosa frase do filme 300 sendo gritada na mente, você se joga atrás da maquina de lavar pensando apenas: "THIS IS ESPARTA!”. Devo dizer que essa é uma das minhas estratégias mais bem sucedidas. Em 95 por cento dos casos, minha família nem nota a figura encolhida na sombra da máquina de lavar com um pacote de comida nas mãos.
Mas, como nada é perfeito, tem sempre aquela vez em que tudo dá errado. Quando você ouve os passos se aproximando e não se mexe. Você vê a sombra entrando na cozinha e, mesmo assim, continua parado, pensando que vai dar tempo. E é só quando sua mãe entra na cozinha e começa a te passar um sermão, porque você não devia estar comendo aquele resto de macarrão do almoço, que você se arrepende de não ter corrido. Essa atitude tem muitos nomes: gula, fome, burrice, desespero. Mas na minha opinião, a palavra que melhor descreve tudo isso é GORDICE . Por isso meus companheiros do crime, compatriotas da gordice, não se enganem: não vai dar tempo de dar aquela ultima colherada no leite condensado ou de roubar mais um pedacinho da borda da pizza. Você vai ser pego no flagra.

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